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Investigadores usam vírus para terapia do mais letal cancro cerebral

Estudo envolveu 25 doentes com glioblastoma que foram submetidos a um tratamento experimental com um vírus associado às constipações comuns. A imunoterapia aumentou de forma significativa a sobrevivência de 20% dos doentes.

Uma equipa de investigadores nos EUA desenvolveu um tratamento experimental que usa um adenovírus, um vírus de tamanho médio que pode causar infeções em humanos, para atacar as células tumorais nos casos de glioblastoma, o tumor maligno mais comum no cérebro. O estudo envolveu 25 doentes que já tinham sido submetidos a cirurgia e outros tratamentos e que sofreram recidivas. Após a imunoterapia experimental, 20% dos doentes viveram mais de três anos, quando a média de esperança de vida destes casos é de seis meses.

Os resultados do ensaio clínico de fase I, que envolveu investigadores do Centro de Cancro M. D. Anderson da Universidade do Texas, foram publicados esta semana na revista “Journal of Clinical Oncology”. Os cientistas usaram um adenovírus associado às constipações comuns com pequenas modificações no seu ADN que tinha sido desenvolvido em 2003 por dois neurologistas espanhóis a trabalhar naquele centro de investigação norte-americano desde 1994. O vírus alterado (DNX-2401 ou Delta-24-RGD) já tinha revelado que era eficaz no combate a este tipo de cancros em estudos pré-clínicos, mas faltava perceber como iria funcionar em doentes.

A equipa administrou uma única injeção do adenovírus modificado diretamente no tumor em 25 doentes. Segundo o artigo, cinco (20%) dos doentes “sobreviveram durante três anos ou mais após o tratamento, e três desses doentes (12%) apresentaram uma redução igual ou superior a 95% do tumor”. Para a maioria das pessoas estes resultados não parecem nada de extraordinário, no entanto, os investigadores envolvidos no estudo lembram que este desfecho é assinalável nos primeiros passos de um ensaio clínico num cancro tão agressivo como o glioblastoma.

“O vírus foi concebido para infetar especificamente as células tumorais, multiplicar-se nelas ao ponto de as matar e passar de célula em célula numa onda de destruição do tumor”, resume Juan Fueyo, um dos autores do artigo, citado no “site” Science Daily. Assim, simplificando, os cientistas usaram o vírus para fazer com que as células tumorais ficassem doentes e esperando que morressem.

Os tratamentos para este tipo de cancro do cérebro, o mais letal, normalmente resumem-se a cirurgias para remoção de tumor e, depois, a aplicação de radioterapia e quimioterapia. As recaídas são frequentes.

“Esta é a primeira vez que um vírus oncolítico [que combate o cancro] mostra esses benefícios contra o glioblastoma”, diz Gómez-Manzano, um dos neurologistas espanhóis que assinam o artigo, em declarações ao jornal “El País”. “Desde que começámos a estudar terapias contra esses tumores, o benefício demonstrado pelos poucos novos medicamentos que atingiram o mercado foi medido em mais semanas de vida”, sublinha.

Este tratamento experimental mostrou que é possível aumentar a esperança e qualidade de vida dos doentes, mas não curar estas pessoas, porque os tumores acabaram por reaparecer. No entanto, os resultados serão suficientemente robustos para que a investigação avance para uma segunda fase de ensaio clínico. Desta vez, segundo os cientistas, o estudo vai decorrer em vários hospitais dos EUA em adultos com tumores cerebrais que vão receber este adenovírus modificado juntamente com um medicamento de imunoterapia. Em Espanha, avança o “El País”, a Clínica da Universidade de Navarra também vai testar este vírus juntando-o ao tratamento convencional com radioterapia em crianças com tumores no tronco encefálico.

Fonte: Jornal Público
Revisão: Dr.ª Ana Freitas
Acedido a: 28 março de 2018