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Descobertas formas de vida com mais de 10 mil anos dentro de cristais gigantes

Os micróbios, que estiveram dormentes durante dezenas de milhares de anos, foram reanimados em laboratório.

Foram encontradas no México 40 estirpes diferentes de micróbios e alguns vírus que têm entre 10 mil a 50 mil anos. Estes microrganismos foram detetados em fase de dormência, a partir de amostras de fluidos encapsulados nos cristais gigantes da gruta de Naica, estado mexicano de Chihuahua, local em que os cristais podem atingir vários metros de altura. Para além de ter sido detetada a presença destes organismos, a equipa de investigadores liderada por Penelope Boston, diretora do Instituto de Astrobiologia da NASA, conseguiu reanimá-los em laboratório.

Alguns estudos anteriores apontavam para que os cristais de gipsite presentes na gruta pudessem ter mais de 500 mil anos. Tendo por base cálculos feitos relativamente ao ritmo de crescimento destas formações e à localização dos micróbios dentro desses cristais, estima-se que estes organismos possam ter entre 10 mil a 50 mil anos.

Em declarações à Associated Press, Penelope Boston afirmou que estes micróbios são uma forma de “super vida”. “Esta descoberta tem um grande impacto na maneira como entendemos a evolução da vida microbiana neste planeta”, acrescenta a investigadora.

“Já se tinham encontrado organismos muito antigos ainda vivos mas, neste caso, todas estas criaturas são excecionais – não são parentes próximas de nada que esteja nos bancos de dados genéticos conhecidos”, afirma Boston. De acordo com a cientista, os parentes mais próximos das estirpes encontradas são, ainda assim, 10% diferentes a nível do genoma, uma diferença tão grande como a que separa os humanos dos cogumelos.

Estas conclusões foram apresentadas num congresso de ciência (American Association for the Advancement of Science) e são o resultado de nove anos de pesquisa. Ainda assim, só agora está a ser escrito um artigo para uma publicação científica e os resultados não foram ainda sujeitos a revisão por pares, um dos processos mais importantes na confirmação de uma descoberta científica. A National Geographic diz que, caso se confirmem as conclusões do estudo, esta descoberta é mais uma prova de que a vida microbiana na Terra consegue sobreviver em condições extremas e em lugares inóspitos.

As formações pontiagudas de gipsite demoraram milhões de anos a formarem-se e não são perfeitas: existem algumas partes ocas que permitiram a acumulação de fluidos. Foi dessas lacunas que a equipa de Boston, em 2008 e 2009, retirou amostras desses líquidos para análise, utilizando ferramentas esterilizadas. Posteriormente, em laboratório, a equipa de investigadores conseguiu “acordar” os micróbios dormentes e, a partir deles, foi possível desenvolver culturas microbianas, revelou Penelope Boston nesta sexta-feira.

Para a investigadora, as condições em que estes micróbios sobrevivem levantam questões relacionadas com a exploração de outros planetas no Sistema Solar, uma vez que as missões espaciais podem aumentar o risco de transporte de micróbios invasivos e de longa duração. Isto gera preocupação no sentido em que pode ser detetada vida noutros planetas que não seja originária de lá mas antes uma evolução dos micróbios terrestres transportados durante uma missão.

A mina de Naica foi descoberta há cerca de cem anos. É dentro dela que fica localizada a Caverna dos Cristais, onde existem formações cristalinas que chegam aos 11 metros de altura e quatro metros de diâmetro. Dentro da caverna, o ambiente é ácido, húmido e as temperaturas são elevadas, variando entre os 40ºC e os 60ºC. As temperaturas são tão altas que a equipa liderada por Boston só conseguia trabalhar durante cerca de 20 minutos consecutivos.

A Caverna dos Cristais encontra-se a 800 metros de profundidade. Atualmente, o acesso ao interior não é possível: a zona ficou inundada depois de terem sido interrompidos os trabalhos de exploração mineira.

Fonte: Jornal Público
22-02-2017
Revisão: Dr.ª Ana Freitas